segunda-feira, agosto 27, 2007

Era uma vez...

“Certo mercador enviou o seu filho para aprender o Segredo da Felicidade com o mais sábio de todos os homens. O rapaz andou durante quarenta dias pelo deserto, até chegar a um belo castelo, no alto de uma montanha. Lá vivia o Sábio que o rapaz procurava.
Ao invés de encontrar um homem santo, porém o nosso herói entrou numa sala e viu uma actividade imensa; mercadores entravam e saíam, pessoas conversavam pelos cantos, uma pequena orquestra tocava melodias suaves, e havia uma farta mesa com os mais deliciosos pratos daquela região do mundo. O Sábio conversava com todos, e o rapaz teve que esperar duas horas até chegar a sua vez de ser atendido.
O Sábio escutou atentamente o motivo da visita do rapaz, mas disse-lhe que naquele momento não tinha tempo para lhe relevar o Segredo da Felicidade. Sugeriu que o rapaz desse um passeio pelo seu palácio, e voltasse daí a duas horas.
- Entretanto, quero-te pedir um favor. Completou o Sábio, entregando ao rapaz uma colher de chá, onde deitou duas gotas de óleo. – Enquanto estiveres a caminhar, segura esta colher na mão sem deixares que o óleo seja derramado.
O rapaz começou a subir e a descer as escadarias do palácio, mantendo sempre os olhos fixos na colher. Ao fim de duas horas, voltou a presença do Sábio.
- Então – perguntou o sábio – viste as tapeçarias da Pérsia que estão na minha sala de jantar? Viste o jardim que o Mestre dos Jardineiros levou dez anos a criar? Reparaste nos belos pergaminhos da minha biblioteca?
O rapaz envergonhado, confessou que não tinha visto nada. A sua única preocupação fora a de não derramar as gotas de óleo que o Sábio lhe tinha confiado.
Pois então volta e conhece as maravilhas do meu mundo – disse o Sábio. – Não podes confiar num homem se não conheceres a sua casa.
Já mais tranquilo, o rapaz pegou na colher e voltou a passear pelo palácio, desta vez reparando em todas as obras de arte que pendiam do tecto e das paredes. Viu jardins, as montanhas ao redor, a delicadeza das flores, o requinte com que cada obra de arte estava colocada no seu lugar. De volta à presença do Sábio relatou pormenorizadamente tudo o que tinha visto.
- Mas onde estão as duas gotas de óleo que de confiei? – perguntou o Sábio.
Olhando para a colher, o rapaz percebeu que as tinha derramado.
-Pois este é o único conselho que tenho para te dar – disse o mais Sábio dos Sábios. – O Segredo da Felicidade está em olhar todas as maravilhas do mundo, e nunca esquecer as duas gotas de óleo na colher.”

Coelho, P. (1990). O Alquimista. Lisboa: Pergaminho

Um comentário:

IsA disse...

sem duvida que se tira uma grande liçao de moral nesta historia ...

quantas vezes fikamos deslumbrados com inumeras coisas que ocasionalmente ou ate muito frekentemente eskecemonos por momentos aquilo que e o mais importante para nos e para quem nos rodeia ...

a velha frase ... usamos as pessoas e amamos as coisas... ainda bem é k nao somos todos assim ... :)